Grupo Multifamiliar – Um Lugar de Possibilidades

Em contraponto ao Código de Menores, a Lei de proteção à infância e juventude, Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA), vem definir a criança e ao adolescente como sujeitos em condição peculiar de desenvolvimento, garantindo-lhes o direito à convivência familiar e comunitária dentre outras como diz no seu art. 4.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Enquanto primeira unidade de apoio, a família exerce um papel de suma importância social, independente da sua configuração,  tem a primazia na responsabilidade de garantir a proteção integral das crianças e adolescentes. A falência da função parental ou familiar prevê que os demais atores: sociedade e estado ofereçam às suas crianças e adolescentes as garantias elencadas no referido artigo.

Seja na família nuclear, aquela formada pelos genitores e filhos; monoparental, reconstituída, extensa ou tenha outro formato, além da proteção, é na família onde iniciam-se as primeiras relações afetivas, sociais e territoriais, a construção da subjetividade, autonomia e cidadania através dos pactos familiares, que introduzem o indivíduo na sociedade.

A precariedade material, ou relacional, pode ocasionar o entrave destas relações, contribuindo para o esgarçamento e rompimento dos vínculos afetivos, culminando com situações de vulnerabilidade. Daí a necessidade de intervenção na busca de superação da situação. Situações como: uso de SPA, violência intrafamiliar, abusos, conflitos familiares, privação de liberdade, etc, são algumas que podem afetar negativamente as relações.

A família, enquanto elemento constitutivo social, está inserida em um contexto onde se presume a preexistência de uma rede social e solidária, detentora de saberes, com potencial, de compreensão e solução para as próprias demandas. Isso é possível através da troca de experiências, entre os pares, em que o desenvolver da capacidade de reflexiva, contribui para a melhoria das relações sócio familiares.

Segundo Minuchin:

“As pessoas precisam de mecanismos para lidar com a tensão que está arraigada, que vem à tona e explode, ou que coloca em risco a afeição e rompe importantes conexões,”

Considerando esta necessidade, a RECRIAR, através do Serviço Social, criou o Grupo Multifamiliar, formado pelos pais e responsáveis dos alunos dos diversos cursos. Este tem como objetivo discutir as relações sócio afetivas entre os diversos grupos familiares, esse formato também permite atendimentos individuais, grupo familiar, casais e quando necessário os encaminhamentos conforme a demanda.

Através de reuniões mensais, com pais e responsáveis, apresentando e discutindo temas relevantes pertinentes à infância e adolescência e seus direitos.  Proporcionamos ainda acesso a jogos, brincadeiras e vivencias, aos participantes do Grupo de Socialização e Lazer formado por alunos e seus familiares. Além das nossas instalações utilizamos equipamentos da comunidade para alguma atividade reforçando e da relação com o território.

As atividades envolvendo os alunos e seus colaterais além do ato de brincar ou jogar, proporciona a interação entre os participantes das famílias, o desenvolvimento de novas amizades, trocas de experiências e momentos de desabafo com o outro, de forma natural. O fato de aprender novas brincadeiras ou jogos, proporciona aos participantes momentos de descontração, nas encenações ou realizações de tarefas o desenvolvimento da criatividade e reforça o diálogo entre o Grupo.

Na situação atual em que necessitamos manter o distanciamento social, foi necessário repensar as atividades, diante da impossibilidade da utilização dos espaços internos que dispomos para as reuniões e jogos.  A opção foram as reuniões online e as vivências em família, algumas atividades hibridas, em duas ou três etapas, ou seja: Reunião, atividade para casa em conjunto com a família e socialização das experiências vividas com a atividade que realizaram no grupo familiar, foi possível ainda apresentações artísticas de alguns adolescentes.

O encerramento das atividades do ano de 2021 do Grupo Multifamiliar, foi realizado um convescote, (pic nic), famílias reunidas na Ponta do Humaitá, uma oportunidade de estar juntos presencialmente, desfrutando da beleza local, compartilhando: espaço, lanches, experiências, brincadeiras e aproveitando para degustar as delícias do “kit de sobrevivência” oferecido pelo Centro Comunitário.

Antecedendo ao evento algumas mães participaram da confecção do lanche, foi um momento singular em que foi evidenciada a grandeza da troca de aprendizados dos cursos que elas realizaram na instituição e de saberes adquiridos anteriormente. Solidariedade, comunicação, estreitamento de laços, momentos de mostra dos saberes; mesmo a discussão sobre o preparo dos alimentos, aconteceu de forma natural, alegre e com boa dose de humor, além da participação, mostraram-se pontuais e dispostas na realização da tarefa.

Interessante observar falas dos participantes sobre o momento: de como se sentiam alegres em estar desfrutando de um momento tão bom, e tão simples, junto com os seus, houve quem dissesse que deveria ter mais momentos como esses. Relatos de como as atividades desenvolvidas no Grupo vem contribuindo para a melhoria das relações familiares, tudo isto regado a muita descontração. Ao final do evento um gostinho de “quero mais” e o desejo de novas oportunidades.